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CRÓNICA DO CAMPO 2023

 (Ouvem-se vozes que gritam): “Alvorada! Homens de pé! Vamos, vamos, não há tempo a perder!”

(Cavaleiro de São Nuno) - Mas que gritaria tão cedo, ainda nem é dia… que vem a ser a causa disto?

(As mesmas vozes fazem-se ouvir):“Castelhanos à vista!”

(Cavaleiro de São Nuno) - Ora bolas! Logo agora, não estou preparado nem mentalizado para a batalha… que faço?

(ouve-se ao fundo): “São Nuno convoca todo o moço que tenha a ousadia de se dizer cristão e português a se lhe juntar. O Condestável parte sem demora para enfrentar o estrangeiro tirano.”

(Cavaleiro de São Nuno) - Onde? Lá vou eu! Esperem por mim, mas… sei lá eu combater! Que posso eu, um jovem inexperimentado? Nunca vi a morte, nem quero ver, tenho medo de uma guerra… nem sequer tenho espada, que hei de levar… olha, ali está minha bíblia. Ena! Tanto pó, quando terá sido a ultima vez que a abri…? Olha, tantos outros rapazes, quem serão? De onde virão? Bem… eles caminham rápido! E esta subida? Custa! Devia ter feito um pouco de desporto… vou chegar cansado à batalha, que pensará São Nuno de mim?

(São Nuno de Santa Maria) - “Que és um valente por aqui estares!”

(Cavaleiro de São Nuno) - S. Nuno!?

(São Nuno de Santa Maria) - “Sim, meu rapaz! Chegaste a Aljubarrota! Aqui o rumo da nossa pátria vai se definir, mas não só. Uma Rota começa para ti pois procuro alguém como tu para ser meu companheiro de armas, meu irmão no serviço do Rei dos reis, do Senhor dos senhores, Jesus Cristo.”

(Cavaleiro de São Nuno) - Eu? Claro que gostaria, mas… eu não sei fazer nada de especial. Confesso que tenho sido infiel a Nosso Senhor nestes últimos tempos. Não rezo, só penso em mim e…

(São Nuno de Santa Maria) - “Ergo os olhos para os montes, de onde me vem o auxílio. O meu auxílio vem do Senhor que fez o Céu e a terra. Ele não permitirá que vacilem os teus passos, não dormirá Aquele que te guarda. Ele está à tua direita. Salmo 121.” Sabes, além daqueles montes que vês no horizonte está Fátima, onde Nossa Senhora poisou os seus pés e dignou-se falar a três crianças. Meu amigo, Deus é o Vencedor. Reconhece-te criança, e o Senhor manifestará o Seu poder na tua fraqueza, pois Ele escolhe os pequenos segundo o mundo para confundir os grandes. Vejo que trouxeste a tua bíblia, fizeste bem. Encontrarás tudo o que precisas na vida de Nosso Senhor. Por agora peço-te que defendas os teus companheiros de patrulha. Ama-os como irmãos. Dá a vida por eles como Cristo deu a vida por ti. Aprende a viver em camaradagem, em amor fraterno. Voltarei a falar-te.”

(Cavaleiro de São Nuno) -Uau! Sou um cavaleiro de S. Nuno. Quem diria? Parece não custar assim tanto. Ainda por cima o caminho por onde vamos agora parece menos agreste, menos subidas. Deixámos as serras para trás. Mas para onde nos levam estes caminhos ladeados de tantas árvores de fruto? Os meus companheiros também não parecem saber… bom pouco importa. Até se está bem aqui. A malta é simpática e comemos tantos bolos!

(outro Cavaleiro de São Nuno) - “Olha ali! Que cidade será aquela sobre a colina? Que muralhas tão grandes!”

(Cavaleiro de São Nuno) - Não faço ideia, se bem que me parece já a ter visto num livro de história de Portugal. Vou perguntar àquele seminarista. Ele deve saber.

(Seminarista) - “É a vila medieval de Óbidos! Mas vamos acampar na colina mais além.”

(Cavaleiro de São Nuno) - É uma igreja o que vemos no topo?

(Seminarista) - “Sim, mais precisamente uma ermida, em honra de Santo Antão.

(Cavaleiro de São Nuno) -Quem foi esse santo?

(Seminarista) - Um eremita, um jovem que deixou tudo por Cristo: trocou casa, bens, família, amigos por uma vida de oração. Foi viver sozinho para o deserto onde o demónio o combateu fortemente. O demónio, sabes, tem medo de que nos tornemos santos! Mas, porque confiou mais na oração do que nas suas forças, Deus fez Antão vencedor e hoje recordamos o seu nome nesta ermida. Abre a bíblia que aí tens e lê o salmo 127.”

(Cavaleiro de São Nuno) - Ora bem… aqui está! “Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham os seus construtores. Se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigiam os guardas.” Não percebo…

(São Nuno de Santa Maria) - “Olha para as muralhas de Óbidos, impressionam-te? Que te garante que elas não tenham estado sob domínio castelhano ou mesmo muçulmano? E mais, que te garante que amanhã elas não ruinem? Onde encontrarás refúgio neste mundo? Deus é o Senhor da história e dos homens. Tudo é segundo o seu querer. Ele fez-te chegar a esta Rota. Deu-te São Nuno como chefe e modelo. Tirou-te das tuas preguiças e prazeres para que no cansaço da caminhada, na convivência com os teus companheiros e sobretudo na oração possas encontrar n’Ele o teu verdadeiro e único refúgio. A ausência atual de São Nuno não é férias! Pelo contrário, como santo Antão, São Nuno retira-se para rezar no silêncio e depositar toda a sua confiança n’Aquele que constrói a sua casa e guarda a sua cidade. Mas eu não sei rezar! Podes começar por dizer isso mesmo a Deus, e podes ter a certeza que já começaste a rezar. É como falar com um amigo.”

(Cavaleiro de São Nuno) - Afinal foi bem pensado trazer a minha bíblia. Porque é que não me lembro de pegar nela durante o ano escolar. Vou mudar isso! E por falar em mudanças, para onde vamos agora. O imponente santuário barroco do Senhor da Pedra despede-se de nós. Três vezes lá tivemos a santa Missa, o sacrifício de Nosso Senhor para nossa salvação. Confesso que custa dizer adeus, mas é preciso seguir caminho. São Nuno espera-nos mais adiante, mas onde? Parece-me ter ouvido falar de Descobrimentos, de oceanos nunca navegados e de levar a cruz rubra de Cristo às nações que não o conhecem… Bom. Para a frente é o caminho! Cada vez mais canas e menos declive. Mosquitos no ar… deve haver água por perto. Oh não! Molhei o pé… mas não é a praia. O que é isto? Remos, coletes, pranchas?!

(Seminarista) - “Rapaziada, ou devo antes dizer: marujos! Ninguém vai para o mar sem se aviar em terra, ou neste caso, treinar em terra! Vamos lá pôr o nosso sangue de navegador a correr nas veias. Tudo com prancha e remo na mão!”

(Cavaleiro de São Nuno) - Ena pá! Nunca tinha sonhado em fazer paddle-surf, muito menos na lagoa de Óbidos. Pego na bíblia e leio, no evangelho de São Lucas, Jesus que diz a Pedro: “Avança para águas mais profundas e lança as redes para a pesca.” Lucas 5,4.

Hum… cheiro a mar misturado a pinheiros. Areia debaixo dos pés. O mar está perto. Peniche! Como voaram estes dias. Já chegámos ao fim, já está a acabar. Que mistura de sentimentos: alegria pelo que passou, querer chegar a casa e contar tudo e ao mesmo tempo tristeza pelo fim dos excelentes momentos passados com os outros cavaleiros de São Nuno, o cansaço da caminhada que nos fortificou a vontade, os jogos que nos ensinaram a divertir com respeito, pelas catequeses do padre Fernando e dos seminaristas que nos elevam o espírito para melhor conhecermos e amarmos a Nosso Senhor. Será que terei isto de novo…?

(São Nuno de Santa Maria) - “Bem te portaste bravo rapaz! Quem te viu e quem te vê. És um verdadeiro cavaleiro da minha companhia.”

(Cavaleiro de São Nuno) - São Nuno! Que bom rever-te! Onde estiveste todo este tempo?

(São Nuno de Santa Maria) - “Rezando junto de Deus por ti e pela tua nova missão. Sim, a Rota foi apenas o início. Muito mais quer Deus de ti. Se pudesses ver Deus, quão imenso é o seu Amor, quão infinito é o Seu desejo de ti, quais são os planos que Ele tem para ti… Que quer Deus de mim? Diz-me! Uma semana de Rota e não percebeste: Deus quer que sejas santo, que desejes ser santo!

Chegaste até onde os teus pés de homem te conseguem levar. Aqui acaba a ocidental praia lusitana e começa o oceano. Estás pronto. Tens de decidir: lançares-te mar adentro, na barca de Pedro, com o Senhor Jesus, ou ficares em terra e desistires. Que dizes?”

(Cavaleiro de São Nuno) - Sim, digo o meu sim, como Nossa Senhora. Com Ela, aqui no santuário dos Remédios de Peniche renovo a Deus as suas palavras: “faça-se em mim segundo a Vossa Palavra.” Durante o ano, na escola, na companhia dos amigos, sei que fará nevoeiro, frio e talvez tempestades… Pedro respondeu ao pedido de Jesus: “Mestre, tentámos a noite inteira e não pescámos nada”. Onde estás Tu, Senhor Jesus? Tranquilamente a dormir na barca. “Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”, continua Pedro. Confio em Ti, Senhor Jesus, pois sei que sem Ti nada posso. Prometo manter-me fiel à oração. Quando a tentação vier aperto forte na minha mão o terço, o escapulário. Não estou sozinho! Lançarei as redes e trarei os meus amigos que não Te conhecem, Jesus, para bordo da barca de Pedro…

(o Cavaleiro de São Nuno ouve uma voz que grita): “…Acorda! Acorda! Está na hora de ir para a escola!... está difícil de acordar esta manhã, filho! Ainda chegamos atrasados à escola!...”

(Cavaleiro de São Nuno) - Mas… onde estou? Que sono…! Terá sido tudo isto um sonho? Olha, a minha bíblia está aberta: “Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam…”

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